Não é preciso ser nenhum estudioso de Direito Constitucional
para entender que o que a bancada evangélica está tentando fazer no congresso é
pelo menos um ultraje a nossa Constituição.
Querer "cristanizar" um estado que por
definição é laico, é no mínimo ultrajante e degradante ao direito de acreditar
no que lhe é racional, e que nos assegura a carta magna de 1988, em seu
Capítulo I, Artigo 5, inciso VI:
"- é inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;"
A bancada evangélica tem tentado a todo custo
"satanizar" a todos os que não
acreditam no Jesus que ela acredita, ou que pelo menos mente acreditar. Afirmo
com veemência porque esse tal Jesus que eles dizem acreditar não é o mesmo que
a bíblia apresenta, por meio de seus evangelistas mais consagrados, e com
certeza não é aquele que estaria no Sudário de Turim (outra farsa comprovada há
mais de vinte anos).
Essa mesma bancada tenta a todo custo impor o seu
conceito de crença a todos os cidadãos de um país que não tem por definição uma
religião oficial, como se fossemos todos ovelhas de um rebanho só. Querem fazer
a mesma lavagem cerebral que é feita em seus púlpitos e altares a pessoas
pobres de conhecimento teológico e de racionalidade. Racionalmente falando, a
ideia que é apregoada nos altares das igrejas é irracional e ilógica. E porque
os evangélicos tentam fazer essa mesma lavagem a todos os outros?
O "ide e pregai o evangelho..." de Marcos 16:15
não deve se contrapor nesse cenário. Será que não ficou claro ainda para eles
que a liberdade de crença deve coexistir de forma que as leis de um país não
beneficiem apenas uma parte da população?
Esse deus que estão enfiar goela abaixo das pessoas está
longe de ser um caminho de amor e paz que os ensinamentos bíblicos trazem.
Antropologicamente falando, o ser humano tende a acreditar em um ser superior
desde antes do período paleolítico, e de forma irracional, tentar infringir
valores e plantar as ideias em cabeças de pessoas que trazem valores e
princípios diferentes é no mínimo ultrajante.
É ilógico acreditar em algo que não se vê, a própria
religião reconhece isso. E não seria irracional e desumano impor os
ensinamentos de um livro de procedência ainda questionada sobre um povo de
costumes ainda mais difusos a uma sociedade moderna e evoluída
significativamente?
Só um tolo não consegue enxergar o quanto evoluímos nos
últimos anos, e o quanto essa evolução tornou ultrapassado qualquer ensinamento
deixado por Moisés ou qualquer outro profeta ainda que seja da idade antes ou
depois de Cristo.
E porque iríamos aceitar que nossas leis fossem ditadas
por uma crença que aceita uma ordem de "ir e pregar o evangelho" a
todos. Mas e se as pessoas não quiserem aceitar? o que acontece com os que não
creram? O poder se condenar não está nas mãos dos homens, porque o mesmo homem
não pode ser juiz e executor! Em Mateus 22:37 orienta a amar a Deus com toda a
sua força alma e entendimento. Mas amor não existe imposição. Não posso
escolher a quem amar! Quer prova maior de livre arbítrio que essa?
O amor é a maior prova de liberdade que se tem, ou seja:
não é possível escolher amar a Deus, se não tiver certeza do que se quer ou se
não se acredita nele. Não é possível amar fora de um universo de liberdade.
E sob quais alegações serão julgados os que não creem?
Com a mesma medida? Outra injustiça. Na igreja o pastor condena a todos os que
não fazem o que ele determina, com ameaças de inferno e tudo mais! Afinal, você
permanece na igreja, porque ama a Deus ou porque tem medo do inferno?
É preciso rever os conceitos de amor, que os cristãos
estão usando para pregar ao mundo o "ide" que Jesus disse. É preciso
ter um pouco mais de coragem para dizer o que pensa, e defender a todos os
seres humanos dessa coisa toda de evangelismo forçado, porque caso contrário
precisaríamos forçar algumas outras religiões existentes no país.
A dualidade no conceito de certo e errado não deve ser de
propriedade exclusiva de uma crença ou de um povo, porque - de novo -, desde os
primórdios o homem tenta acobertar ou endeusar alguém pelos seus fracassos e
vitórias, para que de forma racional, se sinta melhor com o inexplicável. Mas
nem todos tem essa mesma visão de racionalidade e sempre foi assim desde
Nicolau Copérnico, Albert Einstein e porque agora iria mudar?
O Jesus que estes evangélicos tentam "engoelar"
a todos não fez isso, em toda a sua trajetória de evangelismo, muito menos os
apóstolos que viveram com ele, e ficaram depois dele. E porque agora esse
moralismo e absolutismo todo?
Estão tirando o proveito de uma sociedade desinformada e
carente e é esse mesmo Jesus que deve se vingar de todos um dia! - Não acho
muito provável, pois estes mesmos condenadores estão tão confiantes que Ele é
amor, que pode ser que eles mesmos queiram fazer justiça em Seu Nome, como os
judeus fizeram há cerca de dois mil anos, crucificando a todos e matando os que
não creem, em nome de Deus!